segunda-feira, 27 de junho de 2011

Assento Ocupado.

Quis saltar do ônibus e voltar para aquela cidade. Ascender um cigarro e andar sem rumo nas pontes brilhantes com poças d’água no chão. Era inverno. Um começo. Quis gritar ali mesmo que era corrupto, medíocre, de carne e osso. Mas as nucas dos passageiros e a mão que tocava-lhe a perna reprimiam seu desejo. Quis uma bofetada na cara para aprender a viver. Diziam que isso ensinava essa gente. Quis um risco fora da linha, um retrato danificado pelo esquecimento, uma caneca quebrada no chão. Quis provar do incerto, do errado, do maldizer. Quis outras mãos e outras coxas. As enxergava pela janela cheia de gotas, borradas. Estavam bem claras na sua mente. Percebeu o quanto era sujo. O quanto gostava disso. Continuou sua viagem. Faltava-lhe coragem.

domingo, 19 de junho de 2011

Sem Cobertor.


E veio a manhã. A boca roxa disfarçada com o vermelho. As unhas nas costas escondidas pelo algodão. O olho desnorteado camuflado nos óculos escuros. O hálito matinal que tentava ser disfarçado com pastilhas de hortelã. O cheiro forte de sexo desconhecido.

Horas atrás, o corpo pedia. O olho olhava, procurando. A boca sorria numa vantagem que não era de costume. O cabelo deslisava entre os ombros que estavam nus. Pernas dançantes. Malemolência. A noite se fora assim, no mesmo instante que ela colocou os sapatos. Apenas uma lembrança que a deixou com 50 quilos a mais. Rápida entre baforadas de álcool, nádegas nas mãos, roçadas em genitálias. Indecência.

Hora do trabalho. Pelo telefone, dá um "bom dia" de cor cinza, quase perceptível. Escuta que foi uma boa ideia ter saído para distrair-se. Segundo ele, precisava caminhar, parar, respirar e voltar um pouco para si mesma. Sentir o consigo antes de tudo.

Com a voz quase trêmula, diz "eu te amo". Quase chora. Seria uma frase linda se a culpa não pesasse sobre suas costas.