sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O que se perdeu!

Ela entrou no carro preto tingido de poeira sobre o sol de meio-dia. Os pingos de suor na sua testa faziam parecer-lhe uma senhora que trabalhara o dia inteiro e esperaria pelo seu marido com o jantar na mesa. Quente e saboroso, esse amor, esse jantar. Apenas o da trabalhadora.

Conferiu as malas, novamente. Tudo no lugar, tudo dentro, tudo separado do jeito que ela precisava e se sentia melhor. Sentiu inveja daquilo que estava conferindo. Usava a blusa xadrez azul que ganhara do seu namorado. Perfumada e atraente, olhou-se no retrovisor e viu o quanto estava se derretendo nesses últimos dias de inverno íntimo dos seus olhos. Chuvas durante três noites e três carteiras de cigarro. Nada sobrava dessas mal dormidas. Apenas a maquilagem borrada diante o espelho e o cinzeiro pedindo socorro pelo excesso. Excesso de tudo, eu digo. Dos cigarros queimados, da sujeira que estava a sua vida, dos amores que passeavam pelo apartamento e atormentavam-na durante essas noites.

Com os olhos no espelho borrado pelo mormaço, percebeu o que não tinha se borrado na ultima manhã. Pois não havia choro naquele dia, e ela estava decidida, que se alguém chorasse, não seria ela. Estava cansada dessas traições. Dessas coxas perfumadas de outros corredores. Dessas barbas roçando-lhe o juízo e a bunda. Ele precisava saber de tudo. Precisava saber o que havia sido escolhido para a vida dos dois. Ele tinha de saber o que foi sofrido e o que se perdeu no meio do caminho entre banquinhos molhados de conhaque e de gozo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Minhas Saritas!


Aos meus amores, que me presentearam com a mais pura beleza da amizade, aos meus integrantes da Sarita, deixo-vos um abraço enorme e quero que fique bem claro: “Espero que a distância não acabe com o que construímos em quatro anos”. Terei vocês para sempre, mesmo no meu inconsciente, como o fruto do meu cultivo por um amor fraterno que ninguém poderá enterrar e estragar. Nem mesmo o tempo, porque pra mim isso tudo será gravado aqui na minha memória. ]

Ah... por que o tempo passa tão veloz?!
Por que ele não pára pra gente respirar?!
Ah...por que o teu silencio me traz a paz?!
Segura a minha mão, não te deixo partir
quando se lembrar de mim
feche os olhos, olhe pro céu
quando me quiser aí
diga alto o meu nome...que eu vou
ah... não fique triste pois nada acabou
só dê um sorriso que o tempo vai voltar
ah... espero contar de novo os dias longos
e diminuir a falta de você, de você
quando se lembrar de mim
feche os olhos, olhe pro céu
quando me quiser aí
diga alto o meu nome... que eu vou

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Os Azuis

E nós, assim, com esse nosso jeito desengonçado, ainda vamos mudar isso tudo. Ainda vamos tirar essa arrumação feia e mal acabada de inverno retrasado da nossa escadaria e colocar esses enfeites que compramos na última viagem. Linda Portugal. Graciosamente dedicada a nós naqueles tempos. Ainda vamos fazer os doces que ficaram derretendo com o calor nas folhas do nosso caderno de receitas cheio de trigo em cima da mesa suja. Ainda vamos estampar sobre os viadutos dessa cidade nossa retomada ao sorriso de criança. Aquele mesmo, de dez anos atrás, onde me chamavas de um nome engraçado e me acolhia com um nome de uma cor, justamente por causa da minha camisa preferida. Vermelhos. Creio que não apenas o meu vermelho tecido sobre o peito, mas o meu tecido avermelhado encoberto pelo peito, o cheio de sangue, o que bombeava as melhores sensações por todo o corpo. Era isso, penso. Os meninos azuis e os gestos vermelhos. Os quais, quase ninguém via sobre as janelas do fim de tarde com aqueles copos de refrigerante.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O jeito surrado, mas esquecido.

As pessoas têm de entender que o "Eu te amo" não é o "Bom dia" que damos ao porteiro, ao professor, ao nosso cão. Eu amo meu cão, e digo que o amo, além do bom dia que dou. Se isso é tão desnecessário, entender que ele, o amor, não foi triturado no liquidificador com alguns rostinhos bonitos, coxas e doses de conhaque, vou ter que me recusar a amar, ou desistir do amor. Assim, eu não poderei conhecer essas nucas que estão por me esperar, com a mente vazia e iludida.

Não desejo nada para quem comete esse egoísmo de amar construído pelo modismo de dizer coisas bonitas e carinhos mal tracejados no corpo do outro e sorrisos entre fumaça de cigarro barato. Apenas desejo a sorte maior ainda que esse amor comprado, de prateleiras e vitrines. Que sejam felizes com essa forma de amar, porque eu? Eu não evoluo nisso tudo, quero me estrepar em um futuro breve de maneira que eu me sinta bem, gostando de estar ali, na dor, dentro do cinzeiro me queimando com essas brasas de amores, sorrindo com cara de bobo mesmo sofrendo. Porque pra mim, isso sim é amor.