domingo, 30 de maio de 2010

É que realmente Eu Te Amo!


Não é um desses amores passageiros que os dias de sol deixam marcados apenas em fotografias velhas que às vezes esquecemos na parede da nossa memória ou um daqueles que um banho de chuva carrega levemente consigo entre calçadas e esquinas dos cantinhos mais perfumados com o nosso cheiro. É um amor intenso que conseguiu superar as montanhas de dores que o tempo não se preocupou de curar. É um amor gritante que rasgou a dor das nossas feridas e estancou o sangue que tanto nos deixavam frágeis por vê-la aberta.

Assustei-me com o relâmpago que minha mente produziu quando percebi que eu tinha superado o nosso estado inconstante de amar um ao outro. Não sei se foi num domingo monótono desses que passamos a tarde trancafiados com nossas nostalgias ouvindo os discos de Coldplay, não sei se foi numa noite quente de quarta-feira onde nos jogamos no quintal da casa e imploramos pela lua que parece fugir dos nossos sonhos, não sei se foi nesses contentes carnavais festejados entre corpos distintos dos nossas necessidades ou até mesmo se foi numa manhã de segunda-feira quando acordamos sem entender o porque de tanta felicidade correndo pelas nossas vértebras, pulsos e pelos.

Só sei que foi gélido, meu querido, o tempo que passei sem teu conforto de amigo, sem tuas mãos ásperas de juventude nas minhas, sem teus abraços magros de me preenchiam nas noites de inverno quando eu não tinha nenhum corpo suado para me iludir.

Só sei que foi rigoroso o sertão dos teus olhares secos diante da minha imensidão azul marinha nos meus olhos pronta para destruir barragens do nosso orgulho por não querer suportar a humilhação de retomar nosso caminhar entre gravetos, flores e pedrinhas coloridas.

E agora, que eu consigo limpar as lágrimas fundas do meu coração, que os ventos sopram azuis na nossa direção, que tudo se encaminha para o nosso bem, que de costume cantamos as canções que no contente nos mantém, prepare nosso cantinho quente, rasgue as cartas das nossas mentiras entranhadas no estranho modo de sentir nosso amor, varra a poeira debaixo dos tapetes coloridos, deixe as “Marias” cantarem nas nossas estantes, sirva tulipas roxas pelos ares, deleite o cheiro agridoce nas cortinas, escancarem as janelas, deixe o sol entrar e quebrar com seu feixe de luz a escuridão que me condenou esses meses longe de ti, porque quando eu chegar terá samba o dia todo, meu amigo. Estou indo de volta pra casa.










Bons ventos para nós!

Júnior.

sábado, 22 de maio de 2010

Ela, quando me faz!


Às vezes parece que ela dança na palma da minha mão, mas quando eu penso em laçá-la com meu papel e caneta ela escorre molemente entre os meus dedos e se espalha no chão. Fruta podre e esmagada. O que me dá um trabalho intenso contra as minhas vagas salas sem nenhum elemento interessante para resgatar um conceito.

Outras vezes parece me acordar no meio da noite e correr por todo o quarto, queimar meus tapetes, arrancar-me dos lençóis sujos, cuspir nas minhas faces, subir pelas gavetas do meu criado-mudo e parar no abajur italiano até eu ascender a luz dessas salas brancas antes sem nenhum elemento interessante e apanhar minhas folhas recicláveis de caderno e extraí-la da lâmpada amarelada de calmaria.

Na minoria, rasgo meu íntimo com a ponta do lápis e extraio as minhas vísceras mais podres que estavam abafadas dentro dessas salas brancas vazias, que por meio de alucinações ou ressacas morais do conhaque não bebido nos bares de esquina, me levam a fotografar datilografias num pequeno retrato mudo. Ela me aborda de sandálias de dedo, roupa de dormir, cabelo bagunçado e com bafo de vinho. Me aborda sem avisar.

Na maioria, sento-me nas almofadas, nas escadas, nas beiras de rios e penso debaixo do teto, sol e chuva esperando ela aparecer. Fico ali estagnado no tempo, sem sentimento, sem sensação, sem nenhum momento para dizer “meu” com nada além da sala branca vazia. Visto minha melhor roupa, me perfumo com cheiro doce, ascendo um cigarro e as velas perfumadas, abro meu melhor vinho e compro flores na esperança dela chegar e largar suas malas pelo sofá, beijar-me os lábios, tomar um chá e conversar sobre essa grande caminhada ausente na minha vida.

Júnior

domingo, 16 de maio de 2010

Penso...


Ainda nas profissões que sempre brinquei quando criança com meus primos no quintal vasto da minha antiga casa. Ainda nos meus objetos de infância que se perderam debaixo da cama. Ainda nos desenhos prediletos que me faziam cabular aula para assisti-los na padaria da esquina. Ainda nos desejos de menino pelas professoras simpáticas e atenciosas. Ainda em correr nu e solto na praia preso à mão do meu grande amor. Ainda em viver loucamente a vida como se fosse sempre este adolescente inconseqüente que sou. Ainda em tocar violão com amigos em rodinhas de samba com todos bêbados falando dos amores passados. Ainda nas pequenas pedras que roubei da praia e guardei no meu baú para presentear alguém diferente dessa massa social. Ainda nos quadros surrealistas que prometi pintar para a minha sala cheia de almofadas estampadas. Ainda em dividir meu apartamento com velhos companheiros. Ainda em viver da arte viva nos palcos e cortinas vermelhas de estrelas com luz própria. Ainda na satisfação que poderei ter um dia vivendo independentemente. Ainda no último abraço envolvente que ganhei da minha mãe. Ainda nas palavras brutas que meu pai recitou para mim. Ainda nos meus medos que se materializam nesses corpos sedentos de orgasmos. Ainda nessa chuva que me prometeram lavar meus ombros desse peso que a rotina me trouxe. Ainda em deixar meu vício de cigarros, drogas e imundos de mentiras. Ainda nas flores que roubaram meu coração numa noite passada. Ainda em receber flores doces do vermelho intenso de uma paixão. Ainda em cultivar minhas tão singelas tulipas roxas e perfumadas de calmaria. Ainda nas paixões inacabadas embrulhadas nos lençóis sujos de sexo. Ainda nos amores que estarão por vir nessa longa estrada sentimental. Ainda em presentear todo meu carinho de menino inexperiente na matéria de amar. Ainda em não me sentir tão só neste quarto sem vida nem cor distinta do triste. Ainda na naturalidade do destino e no que ele pode estar reservando para mim.


Júnior.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Na chuva!

É que na chuva tudo fica mais tranqüilo. Tudo fica mais doce, mais visível, mais intenso. Meus olhos negros se encorajam na pele seca da minha juventude. Minha boca reluz o rosa da minha saudável saudade dos tempos de menino. Meus cachos viram carrossel para os pingos. Meus ombros não sentem o peso dessas minhas inconstantes nostalgias. Meus pés brincam calmamente na lama, sem nenhuma preocupação. Meu som sai harmonicamente e encontra os ouvidos das pedras mudas derretidas pelo chão. Meu gosto enfurece meu paladar do vício contente dos meus sabores. Meu tronco rasga minhas costas a fim de me deixar solto dessa consciência. Minhas pernas tremem de felicidade e me matam a vontade de dançar no vento. Meus braços rugem a traquinagem do meu riso para me jogarem aos céus e ficarem perto dos meus sonhos. Minhas asas se abrem e sinto toda a liberdade presa na minha epiderme. Meu vôo se faz leve.

Então me deixam na ilusão confortável de pensar no amor, que pra mim se faz tão necessário. De relembrar dos meus desenhos prediletos quando criança. De acreditar no belo, no bom, no doce. De enxergar meus dentes sujos de nicotina como a mais bela obra de Renoir. De ver meu corpo rígido e forte para o peso dos bárbaros. De ler meus textos como Clarice penetrava nos seus tão intimamente. Ouvir o Ney apaixonado recitar suas canções de amor como se fosse, hoje, para o Caju. Acreditar sobriamente depois da loucura das águas nos versos de amor de Camões. Chorar na voz calma e envolvente de Marisa. Libertar meus tabus materializando a Luz Del Fuego. Viver na sinestesia meus sentimentos e desejos. Sentir na garoa, quando a chuva se despedir da minha pele, a extração do meu cheiro bom de homem renovado e deixar pairar sobre todas as rosas, margaridas e tulipas meu orgasmo de som, cheiro, cor, gosto e toque.

Júnior.

domingo, 9 de maio de 2010

Cansaço.


Cansado

Dessa chuva que não vem.

De esperar por este alguém que nem sei quem é.

De saber quem eu sou e quem eu não quero ser.

De ser mais uma enfeite nesse cenário de vida real.

Do cenário com o mesmo jogo de luz que nunca me faz aparecer como estrela.

Das estrelas no campo aberto que pensei em dormir por esta noite.

Dessas noites sem nenhum rumo ou direção.

Desses rumos e direções sem nenhuma seta de consciência.

De ter consciência quando não quis.

De não querer sair da bagunça dessa estrutura.

Dessas estruturas carregadas do câncer que não está curando.

Desse câncer que não me diagnosticaram.

Desse diagnóstico da doença sem cura.

Da cura que meus móveis tentam me dar com o conforto.

Desses móveis que estão sendo corroídos pelas pragas que não vão embora.

Dessas pragas que brincam com meus olhos diante do espelho.

Desses espelhos quebrados de distorcem minha boca no riso.

Desses risos que tanto li nas paredes, nas caixas e nos livros.

Desses livros que sempre dizem mentiras sobre um mundo fantástico.

Desses fantásticos que sempre trazem músicas que me emocionam.

Dessas músicas que sempre vêm me deixar na lama ou nos bares.

Dessas lamas e desses bares que sempre me fazem afundar ainda mais.

Desse fundo da garrafa de conhaque em plena quarta-feira.

Desses conhaques que me deixam atordoado e lúcido com a minha posição.

Dessa minha posição sobrecarregada de flores mortas.

Dessas flores mortas de sinceridade e de amor entregues no fim de semana.

Desses fins de semana com meus sinceros brinquedos de infância.

Dessa sinceridade duvidosa na infância de outros sorrisos.

Desses amores infantis e sorridentes nas sinceridades.

Dos sorridentes que não me fazem rir de alegria sem interrupções.

Dessas interrupções que essa ressaca me traz.

Da ressaca do vinho que não bebi na noite passada.

Da noite passada sem chuva e sem estrela.

Dessa chuva que não vem.

Dessa chuva que não...

Dessa chuva que...

Dessa chuva.

Cansado dessa... Daquela... Da outra...

Cansado do gosto, do gasto, do gesto.

Cansado de tudo.


Júnior.

domingo, 2 de maio de 2010

Carpe Diem, Baby!

Pensei em mandar-lhe aquelas velhas e bregas mensagens de aniversário onde falam as mesmas coisas sobre a mesma comemoração. Como pode ver, desisti da idéia e ousei em escrever-te algo para dizer o quanto te quero ver aproveitando o seu dia que dizem ser especial para gente.

Querido, eu estava lembrando o quanto pudemos viver juntos em tão pouco tempo. É como se algo já tivesse predestinado a acontecer em nossas vidas para nos trazer alegrias, dores, mudanças e nos fazer ter uma visão de um futuro mais planejado mesmo sabendo que não temos comando sobre ele. Já foram tantas risadas discretas entre praças e calçadas, tantos abraços derramados entre shows e festas, tantos olhares de compreensão entre dias de chuva.

Eu te tenho como um alguém raro dentro do meu baú de sentimentos bons que conseguiu entrar sem nenhum esforço nem interesse. Apenas foi se chegando, de mancinho, como quem não quer nada e me despertou esse sentimento de amizade que me engoliu se deliciando com nossos risos arrancados por tanta cumplicidade. É tão bom te ter por perto. É tão bom saber que Deus reservou um pedaço do seu coração pra mim. É tão bom estar presente mesmo ausente no seu mundo cheio de sonhos e sensações que só um menino voador pode sentir.

Lembrei de um abraço que te dei numa sexta-feira depois de ter vindo de uma noite de farra. Fiquei por minutos com seus ombros dentro dos meus, suas mãos encravadas nas minhas costas, seu cabelo roçando a minha nuca. Naquele momento creio que de alguma forma pudemos espantar uma sensação ruim que estávamos sentindo. E então depois você me responde: “Que abraço gostoso que você me deu”. Pudemos sentir o íntimo machucado um do outro e pudemos curar por uma noite apenas uma dor que estava incomodando nossas almas tão imaturas.

Hoje eu quero dar-te mais um daquele abraço. Beijar seu rosto de menino levado. Pegar a sua mão de homem distinto e dizer o quanto a vida pode ser boa. Cantar: “Amor, amor, fiel me trai, me azeda, me adoça e me faz viver. Amor, amor eu quero só paixão, fogo e desejo”. Correr com os braços no ar por ladeiras e calçadas cheias de gente arrogante passando pra lá e pra cá. Brincar na lama empoçada no quintal da minha casa. Pular de alegria na chuva que vem nos banhar com a graça da lavadeira de almas. Abraçar uma árvore lembrando “Queridos Amigos”. Ver móveis empoeirados nas lojas do comércio. Provar as roupas de brechós dessa cidade e não levar nenhuma peça. Tomar juntos na lanchonete um copo de suco com dois canudos e olhar para os lados para ver se alguém esteja reprimindo tamanha diferença. Comer batata-frita na pracinha. Rir de besteiras. Drogar-me com a droga da felicidade.

Eu quero estar dentro de você hoje, neste dia tão especial.

Então coloquemos nossas roupas que mais caem bem no nosso corpo. Você veste aquela camisa branca regata com aquele calção jeans rasgado e meio desbotado e curto, com aqueles tênis brancos que eu coloco minha camisa xadrez azul, minha calça jeans apertada e meus tênis verdes e saímos para comemorar esse dia tão cheio de vida.

Encontraremos-nos em qualquer lugar, para que eu possa olhar-te bem de perto, dizer que você está ficando velho, abraçar-te ainda rindo com o comentário, sentir tua idade no teu cheiro e dizer que te amo muito, meu querido, e quero estar presente na sua vida por pelo menos décadas dessa data.

Não quero te esquecer, mesmo quando estiver velho também. Quero lembrar-me desse teu sorriso que sempre elogiei. Lembrar desses cachos negros que teu cabelo insiste disfarçar. Lembrar dessa cara de sonhador que tanto fazes quando voa com os pés no chão. Lembrar dos teus braços, das tuas mãos, da tua pele negra. Lembrar dos teus sonhos para sempre e se possível, estar ao teu lado quando fores falar que realizou todos.

Feliz aniversário, baby. Aproveite seu dia.

Júnior

sábado, 1 de maio de 2010

“Não mais e nem muito menos”.


Você está me deixando ir embora para bem distante e eu tenho medo de não querer voltar mais ou não poder fazer a viagem de reencontro. Você está jogando minhas roupas pela janela do primeiro andar fazendo com que todos vejam as minhas imperfeições escancaradas há muito tempo nos muros dos piores becos imundos. Você está cuspindo na minha cara o gelo que se concretiza quando não vem me procurar nas esquinas embriagadas com cheiro dos outros corpos que não estão presentes em nossos lençóis. Você está me deixando só naquela enorme pedra que tínhamos de costume fazer nosso cenário de amor. Você não está segurando a minha mão quando eu tenho medo do escuro com os meus fantasmas escondidos debaixo da cama, nem muito menos me liga para me aliviar quando está fora. Aliás, você não esta mais dormindo na nossa cama, nem mesmo na nossa casa. Você não está a me esperar no verde onde passávamos horas jogando conversa fora e descobrindo cada vez mais segredos e belas manias um do outro, nem muito menos se interessa pra descobrir algo do meu dia. Você não está me devolvendo um sorriso contente e bobo que só os que amam podem retribuir, nem muito menos sorrindo com minhas palhaçadas que tanto correm pelo meu corpo espontaneamente. Você não está me iludindo com suas promessas que nunca sabemos se irão ser cumpridas, nem muito menos me deixando cumprir as minhas quando te disse que ia te fazer feliz e não deixar que ninguém te machuque. Você não joga mais baralho no sofá comigo, nem muito menos me convida para debaixo dos lençóis para assistir um filminho romântico. Você não está me proibindo mais de fumar e beber, nem muito menos me levanta do chão quando estou jogado de tão drogado por sofrer esta sua ausência. Você não me impede mais de chorar de tristeza, nem muito menos me dá alegria para que isso não aconteça. Você não faz mais o cafuné tão gostoso que me fazia dormir, nem muito menos toca meus lábios me desejando boa noite. Você não mais escreve “cartas ridículas de amor”, nem muito se permite ler as que eu escrevo. Você não mais dedica parte do seu dia para pensar em mim, nem muito menos lembra dessa parcela diária que nunca é obrigatória mas sempre pagamos com uma sensação confortável. Você não mais elogia minhas calças jeans apertadas, nem muito menos lembra delas quando eu pergunto. Você não consegue mais me dizer o que sente dentro do seu peito, nem muito menos cantarolar clichês ultrapassados e bregas nos meus ouvidos. Você não mais dorme pensando no como mudar para melhor o meu dia seguinte, nem muito menos quer dividir ele comigo me presenteando com sua companhia. Você não está mais aqui. Você não quer mais voltar. Você não se importa de me deixar só. Você não me dá a satisfação que nem procuro. Você fechou a porta e não me devolveu as chaves. E o pior que fechou comigo dentro desse todo. Então não espere que eu pule a janela ou quebre os móveis quando não estiver mais agüentando de tanta abstinência. Não espere que eu queime os lençóis e cause o maior tumulto porque eu não vou dar tal vexame. Não espere que eu fuja pelo telhado e vá a sua procura porque eu não posso resolver seus problemas e te trazer para nosso lar. Você já sabe o caminho de volta e não vou lhe ensinar novamente. Apenas vou continuar trancado aqui com meus livros, CDs, brinquedos, fotografias e cartas, e uma vida pela frente que quero desfrutar da melhor maneira possível sem estar preso a você. Agora se quiser voltar, me avise bem muito antes, pois, dentro de tudo está uma bagunça que você deixou quando se foi que eu queria arrumar antes que você batesse na porta. Caso não queira roçar os pés no tapete do meu terraço, não haverá problema, apenas você não vai estar comigo e nem muito menos me terá por perto. Apenas dentro das recordações que deixaremos no fundo do armário escondidas de todos e que no fim me farão ir embora, mesmo sem as chaves.

Júnior.