terça-feira, 9 de agosto de 2011

In-Cômodo

O tempo está parando, ou melhor, parece que ficou estagnado na parede do meu quarto. Ando envelhecendo sem ele perceber e não saio do canto para acordar numa manhã nova de qualquer cor que seja. A barba já passa do pomo de Adão. Os olhos afundam-se no rosto. As unhas arranham qualquer superfície/pele/casca que eu chego a tocar. O cinzeiro afogando-se grita por socorro. A cama chupa o mofo na tentativa de preparar um sonho bom para se viver. Neste in-cômodo, me procuro nos risos das fotografias que tentam me resgatar. Não vejo ninguém. Apenas segundos daquilo que um dia eu cheguei acreditar que fosse perdurar. Mãos costuradas numa só. Olhos se espremendo de alegria. Um companheirismo sem igual nessa sinfonia de “Eu te amo” saindo de bocas. Palavras. O veto sempre carrega. Roubaram-me a beleza, a coragem e o tempo, esse pouco que me resta para dizer aquilo que não foi dito no último encontro, parece fugir dos meus dedos. Isso machuca aos poucos. Vibra, arranha, coça. Fica preso na garganta saboreando um falta de sei lá o que.

domingo, 7 de agosto de 2011

Afia-se.


Uma pontada no peito, assim, lenta, devagar, como se ela estivesse gostando de ter na boca as palavras certas para ferir ou apenas gostasse de jogá-las fora, no vento, pela janela, direto nos tímpanos. Ouvia a voz que lhe mexia o estômago, suava-lhe as mãos, corava-lhe o rosto e logo em seguida, quase que automático, cuspia o silêncio que parecia mais descer como um suco de pimenta em dia de mormaço ou a escarrava a voz que fritava juízos e amassava sentimentos e sonhos e corações agora partidos. Era uma maneira de sobreviver. De não ter o que contar. De se privar de dores. Rugir.