quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Peculiaridades 1. O Sentido Amar.



A este amor que tanto sonhei depois das películas cinematográficas.

A este amor que tanto chorei depois dos mares de sonhos acabados.

A este amor que tanto pintei nos livros e paredes de colorir.

A este amor que tanto esperei e não me avisaram quando ele ia chegar.

A este amor que tanto desejei, até quando não fito os seus olhos.

A este amor que tanto colecionei em figurinhas, mesmo em repetidas.

A este amor que tanto soube existir, mesmo sabendo que nada sei dele.

A este amor que tanto senti, mesmo quando estive embriagado de realidade.

A este amor que tanto procurei, mesmo entre calçadas vagabundas.

A este amor que tanto senti, mesmo sabendo que ele não está contido no meu peito.

Em suma, a esses amores irreais, platônicos, surreais, carnais, incontroláveis, irracionais, estranhos, cegos, surdos, mudos, com a boca cheia e a borda escorrendo de amor pra amar.

Júnior.

(Desenho elaborado na sala de aula. Para variar, aula muito chata de Cretin...opp´s, Christina.)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bêbado de tolice.


Penso na tolice da embriaguez. Fiz da última vez para tentar esquecer algo. No entanto, se soubéssemos, antes do primeiro gole desejado, o sabor amargo que as lembranças têm quando tocam nosso paladar, não fazíamos isso.

Um gosto tão estranho que parece amassar-nos contra a parede meio suja já por outros, afim do vomito de ar comprimido nos nossos cérebros há décadas. O lembrar já podre grudado na nossa mente. Sem data de validade. Sem destino. Sem convite para entrar e permanecer para o chá da tarde.

Bebemos para esquecer. Quando assim ocorre. Não esquecemos. Falamos entre corredores bagunçados, banheiros lotados de merda, calçadas corrompidas do lixo, todos os males e infernos que nos reascendem de contradição para o nosso presente já passado sendo planejado para o futuro tão breve que parece mentir e não chegar.

E nada se faz como queremos. Ficamos vulneráveis. Choramos ou não feito crianças mimadas. Somos amados e odiados por todos em volta.

Até que chega a hora do descanso. Depois do gole. Depois do amargo. Depois do choro. Depois do vomito e vergonha sangrada nos ambientes... Aparecem nossas camas.

Aí sim, percebemos com a maldita ressaca o quanto estávamos infames nos olhares dos outros. Aí sim, percebemos a contradição da nossa realidade. Quando mais queríamos esquecer as lembranças que arranhavam nossa cabeça, não conseguimos. Acordamos com elas mais vivas do que antes, exalando o cheiro amargo, azedo do nosso vomito, e ainda temos de pensar na merda da tolice da noite passada. A embriaguês.

Júnior!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mutável.


E vai ser assim. Você ai e eu cá. Eu com minhas bolinhas de gude ainda sujas de lama terra molhada. E você com seus livros já rasgados pelo tempo traça e pela correria. Eu querendo ser menino sonhador dos filmes de aventura. E você querendo ser dona das suas próprias pernas. Eu tomando coragem pra gritar o amor nas praças e agitar a calmaria dos pombos se alimentando. E você julgando a minha inconstante forma de querer surpreender-te. Eu querendo pegar briga no pátio do colégio por ouvir de forma suja seu nome. E você querendo ser estrela entre amigos de trabalho que não se lembram do meu apelido. Eu estudando música pra fazer-te uma canção. E você estudando cinema pra passar o filme do meu fracasso/amor. Eu querendo ser passarinho verde. E você nem ai para o meu voar colorido. Eu tagarelando nos corredores sobre seus beijos. E você apagando o gosto desses simples gestos. Eu tentando decorar o francês das músicas de Piaf. E você rasgando os versos em português amador que te deixei embaixo do travesseiro. Eu colhendo flores pra deixar no retrovisor do seu carro. E você acelerando ele para passar por cima de mim e acabar isso tudo de uma vez. Eu querendo seguir teus pés na areia quente da praia. E você apenas querendo saber em que planeta eu me encontro. Eu querendo me inflamar numa dessas paixões. E você me dizendo pra ir embora e fechar a porta. Então, ainda meio assim, calado, preso num catarro ou em outro na garganta, resolvi não mais falar sobre o amor. Porque ele é inconstante. Pelo menos o meu. Ele é assim tão passageiro, que ontem mesmo, te amei de novo, e de novo, e de novo. Depois de cada palavra dita no silêncio dessas cartas meio secas. Depois dos risos sem sons dos desenhos que me presenteou há anos. Depois do nada que houve entre nós dois. Depois do ódio. Depois do maldizer nos botecos. Depois dos discos quebrados de ausência da tua voz me cantando pela manhã. Decidi que será assim. Que vai ser assim. Vou sair disso. Vou mergulhar numa outra dança com um outro par. Vou virar beija-flor de outros jardins. Vou virar essas traças. Corroendo as bordas desse todo até não existir mais nada. Até existir o nada. Para existir o só, somente. Tão passageiro quanto o amor. Esperando mais uma ou duas músicas para me tornar novamente isso que ainda sinto latejando dentro desse ser. Necessariamente, esperando a mudança. Saindo desses tecidos amassados de amor.

Júnior!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O lembrar mucoso.


O lugar ainda continua o mesmo daquele menino que soterrava seus soldados de brinquedo na lama do quintal da antiga casa.

O mesmo que o grande menino desenhava com suas folhas secas de outono e giz de chão barrento.

O mesmo que o sonhador menino pintava seu rosto com as cores de um teatro vivo.

O momento ainda continua o mesmo daquele singelo palco onde viviam as suas efêmeras posições em relação a um romance.

O mesmo onde ele se perdeu num abrigo de cheiros e sons convidativos para uma noite bem dormida.

O mesmo onde se estranhou nas medidas incertas do amor.

O tempo ainda continua o mesmo daquele corredor quando os quadros parados observavam um amor inútil e insolente.

O mesmo quando o incenso doce e ácido pairava sobre dois corpos suados.

O mesmo quando a lua espiava silenciosamente pela janela um carinho que o tal pensar fazia eterno.

O hoje? Sim. Este, eu creio que mudou.

Não há mais a simetria daqueles lugares sedentos por algo isento do aquilo raro que se transformava feito fumaça ao sair da minha boca.

Não há mais a simplicidade dos retratos simbólicos daquela realidade pura que andava sonhando numa tarde calma depois do almoço assassino da minha fome.

Não há mais nada além de cartas mal escritas com músicas/rimas repetidas, desenhos surreais desbotados e comidos por traças, palavras penduradas num fio de lembrança no meu telhado, sons estranhamente entrelaçados nos meus lençóis úmidos.

Não há nem sequer este silêncio que tanto me julgam ter entre bares ao som do samba mais triste, avenidas em pleno carnaval contentado, nas noites de gramado em plena lua, nas cantorias de textos improvisados com tamanha falta de inovação.

Nada restou no antigo relicário. Se é que o mesmo um dia existiu.

Restou o fato, o ato, o trato. Maus feitos e mal retratados. Nunca consumidos ao meu almejar. Nunca no meu silêncio. Nunca na retina da minha doce simplicidade para o amor que se estragava.

E se algo ainda existir. Dentro de mim ou fora desse corpo. Na minha mente ou entranhado na parede do meu quarto. Nos meus discos mal cantados ou na minha garganta dilacerada...

Será essa merda que sempre quis deixar arranhando-me durante o sonho.

Esse catarro que eu sempre quis grudado no meu esôfago.

Pigarro. Limo. Aquele. O do verde. O do roxo.

O do bem podre e viscoso.

Que não me deixa gritar.

Que não me deixa falar.

Que não me deixa mentir.

Que não me deixa engolir essa porcaria de comida pegajosa que tanto me faz lembrar o seu modo mucoso de oferecer palavras/atos/flores/desenhos/gestos/carinho...Sempre mal ensaiados.

Junior