sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mutável.


E vai ser assim. Você ai e eu cá. Eu com minhas bolinhas de gude ainda sujas de lama terra molhada. E você com seus livros já rasgados pelo tempo traça e pela correria. Eu querendo ser menino sonhador dos filmes de aventura. E você querendo ser dona das suas próprias pernas. Eu tomando coragem pra gritar o amor nas praças e agitar a calmaria dos pombos se alimentando. E você julgando a minha inconstante forma de querer surpreender-te. Eu querendo pegar briga no pátio do colégio por ouvir de forma suja seu nome. E você querendo ser estrela entre amigos de trabalho que não se lembram do meu apelido. Eu estudando música pra fazer-te uma canção. E você estudando cinema pra passar o filme do meu fracasso/amor. Eu querendo ser passarinho verde. E você nem ai para o meu voar colorido. Eu tagarelando nos corredores sobre seus beijos. E você apagando o gosto desses simples gestos. Eu tentando decorar o francês das músicas de Piaf. E você rasgando os versos em português amador que te deixei embaixo do travesseiro. Eu colhendo flores pra deixar no retrovisor do seu carro. E você acelerando ele para passar por cima de mim e acabar isso tudo de uma vez. Eu querendo seguir teus pés na areia quente da praia. E você apenas querendo saber em que planeta eu me encontro. Eu querendo me inflamar numa dessas paixões. E você me dizendo pra ir embora e fechar a porta. Então, ainda meio assim, calado, preso num catarro ou em outro na garganta, resolvi não mais falar sobre o amor. Porque ele é inconstante. Pelo menos o meu. Ele é assim tão passageiro, que ontem mesmo, te amei de novo, e de novo, e de novo. Depois de cada palavra dita no silêncio dessas cartas meio secas. Depois dos risos sem sons dos desenhos que me presenteou há anos. Depois do nada que houve entre nós dois. Depois do ódio. Depois do maldizer nos botecos. Depois dos discos quebrados de ausência da tua voz me cantando pela manhã. Decidi que será assim. Que vai ser assim. Vou sair disso. Vou mergulhar numa outra dança com um outro par. Vou virar beija-flor de outros jardins. Vou virar essas traças. Corroendo as bordas desse todo até não existir mais nada. Até existir o nada. Para existir o só, somente. Tão passageiro quanto o amor. Esperando mais uma ou duas músicas para me tornar novamente isso que ainda sinto latejando dentro desse ser. Necessariamente, esperando a mudança. Saindo desses tecidos amassados de amor.

Júnior!

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