domingo, 9 de maio de 2010

Cansaço.


Cansado

Dessa chuva que não vem.

De esperar por este alguém que nem sei quem é.

De saber quem eu sou e quem eu não quero ser.

De ser mais uma enfeite nesse cenário de vida real.

Do cenário com o mesmo jogo de luz que nunca me faz aparecer como estrela.

Das estrelas no campo aberto que pensei em dormir por esta noite.

Dessas noites sem nenhum rumo ou direção.

Desses rumos e direções sem nenhuma seta de consciência.

De ter consciência quando não quis.

De não querer sair da bagunça dessa estrutura.

Dessas estruturas carregadas do câncer que não está curando.

Desse câncer que não me diagnosticaram.

Desse diagnóstico da doença sem cura.

Da cura que meus móveis tentam me dar com o conforto.

Desses móveis que estão sendo corroídos pelas pragas que não vão embora.

Dessas pragas que brincam com meus olhos diante do espelho.

Desses espelhos quebrados de distorcem minha boca no riso.

Desses risos que tanto li nas paredes, nas caixas e nos livros.

Desses livros que sempre dizem mentiras sobre um mundo fantástico.

Desses fantásticos que sempre trazem músicas que me emocionam.

Dessas músicas que sempre vêm me deixar na lama ou nos bares.

Dessas lamas e desses bares que sempre me fazem afundar ainda mais.

Desse fundo da garrafa de conhaque em plena quarta-feira.

Desses conhaques que me deixam atordoado e lúcido com a minha posição.

Dessa minha posição sobrecarregada de flores mortas.

Dessas flores mortas de sinceridade e de amor entregues no fim de semana.

Desses fins de semana com meus sinceros brinquedos de infância.

Dessa sinceridade duvidosa na infância de outros sorrisos.

Desses amores infantis e sorridentes nas sinceridades.

Dos sorridentes que não me fazem rir de alegria sem interrupções.

Dessas interrupções que essa ressaca me traz.

Da ressaca do vinho que não bebi na noite passada.

Da noite passada sem chuva e sem estrela.

Dessa chuva que não vem.

Dessa chuva que não...

Dessa chuva que...

Dessa chuva.

Cansado dessa... Daquela... Da outra...

Cansado do gosto, do gasto, do gesto.

Cansado de tudo.


Júnior.

4 comentários:

  1. Também compatilho desse cansaço.

    Só o tempo tem o poder de suavizar.

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  2. O poeta é aquele que transforma "o já sabido" em "não sabido"!
    Parabéns, Jr!
    De fato, estamos todos viceralmente cansados!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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