domingo, 16 de maio de 2010

Penso...


Ainda nas profissões que sempre brinquei quando criança com meus primos no quintal vasto da minha antiga casa. Ainda nos meus objetos de infância que se perderam debaixo da cama. Ainda nos desenhos prediletos que me faziam cabular aula para assisti-los na padaria da esquina. Ainda nos desejos de menino pelas professoras simpáticas e atenciosas. Ainda em correr nu e solto na praia preso à mão do meu grande amor. Ainda em viver loucamente a vida como se fosse sempre este adolescente inconseqüente que sou. Ainda em tocar violão com amigos em rodinhas de samba com todos bêbados falando dos amores passados. Ainda nas pequenas pedras que roubei da praia e guardei no meu baú para presentear alguém diferente dessa massa social. Ainda nos quadros surrealistas que prometi pintar para a minha sala cheia de almofadas estampadas. Ainda em dividir meu apartamento com velhos companheiros. Ainda em viver da arte viva nos palcos e cortinas vermelhas de estrelas com luz própria. Ainda na satisfação que poderei ter um dia vivendo independentemente. Ainda no último abraço envolvente que ganhei da minha mãe. Ainda nas palavras brutas que meu pai recitou para mim. Ainda nos meus medos que se materializam nesses corpos sedentos de orgasmos. Ainda nessa chuva que me prometeram lavar meus ombros desse peso que a rotina me trouxe. Ainda em deixar meu vício de cigarros, drogas e imundos de mentiras. Ainda nas flores que roubaram meu coração numa noite passada. Ainda em receber flores doces do vermelho intenso de uma paixão. Ainda em cultivar minhas tão singelas tulipas roxas e perfumadas de calmaria. Ainda nas paixões inacabadas embrulhadas nos lençóis sujos de sexo. Ainda nos amores que estarão por vir nessa longa estrada sentimental. Ainda em presentear todo meu carinho de menino inexperiente na matéria de amar. Ainda em não me sentir tão só neste quarto sem vida nem cor distinta do triste. Ainda na naturalidade do destino e no que ele pode estar reservando para mim.


Júnior.

Um comentário:

  1. Caramba!! Li este texto e tbm tava ouvindo Nando,no mesmo MOMENTO.. quase chorei. kkkk Muito Bom.

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