sábado, 1 de maio de 2010

“Não mais e nem muito menos”.


Você está me deixando ir embora para bem distante e eu tenho medo de não querer voltar mais ou não poder fazer a viagem de reencontro. Você está jogando minhas roupas pela janela do primeiro andar fazendo com que todos vejam as minhas imperfeições escancaradas há muito tempo nos muros dos piores becos imundos. Você está cuspindo na minha cara o gelo que se concretiza quando não vem me procurar nas esquinas embriagadas com cheiro dos outros corpos que não estão presentes em nossos lençóis. Você está me deixando só naquela enorme pedra que tínhamos de costume fazer nosso cenário de amor. Você não está segurando a minha mão quando eu tenho medo do escuro com os meus fantasmas escondidos debaixo da cama, nem muito menos me liga para me aliviar quando está fora. Aliás, você não esta mais dormindo na nossa cama, nem mesmo na nossa casa. Você não está a me esperar no verde onde passávamos horas jogando conversa fora e descobrindo cada vez mais segredos e belas manias um do outro, nem muito menos se interessa pra descobrir algo do meu dia. Você não está me devolvendo um sorriso contente e bobo que só os que amam podem retribuir, nem muito menos sorrindo com minhas palhaçadas que tanto correm pelo meu corpo espontaneamente. Você não está me iludindo com suas promessas que nunca sabemos se irão ser cumpridas, nem muito menos me deixando cumprir as minhas quando te disse que ia te fazer feliz e não deixar que ninguém te machuque. Você não joga mais baralho no sofá comigo, nem muito menos me convida para debaixo dos lençóis para assistir um filminho romântico. Você não está me proibindo mais de fumar e beber, nem muito menos me levanta do chão quando estou jogado de tão drogado por sofrer esta sua ausência. Você não me impede mais de chorar de tristeza, nem muito menos me dá alegria para que isso não aconteça. Você não faz mais o cafuné tão gostoso que me fazia dormir, nem muito menos toca meus lábios me desejando boa noite. Você não mais escreve “cartas ridículas de amor”, nem muito se permite ler as que eu escrevo. Você não mais dedica parte do seu dia para pensar em mim, nem muito menos lembra dessa parcela diária que nunca é obrigatória mas sempre pagamos com uma sensação confortável. Você não mais elogia minhas calças jeans apertadas, nem muito menos lembra delas quando eu pergunto. Você não consegue mais me dizer o que sente dentro do seu peito, nem muito menos cantarolar clichês ultrapassados e bregas nos meus ouvidos. Você não mais dorme pensando no como mudar para melhor o meu dia seguinte, nem muito menos quer dividir ele comigo me presenteando com sua companhia. Você não está mais aqui. Você não quer mais voltar. Você não se importa de me deixar só. Você não me dá a satisfação que nem procuro. Você fechou a porta e não me devolveu as chaves. E o pior que fechou comigo dentro desse todo. Então não espere que eu pule a janela ou quebre os móveis quando não estiver mais agüentando de tanta abstinência. Não espere que eu queime os lençóis e cause o maior tumulto porque eu não vou dar tal vexame. Não espere que eu fuja pelo telhado e vá a sua procura porque eu não posso resolver seus problemas e te trazer para nosso lar. Você já sabe o caminho de volta e não vou lhe ensinar novamente. Apenas vou continuar trancado aqui com meus livros, CDs, brinquedos, fotografias e cartas, e uma vida pela frente que quero desfrutar da melhor maneira possível sem estar preso a você. Agora se quiser voltar, me avise bem muito antes, pois, dentro de tudo está uma bagunça que você deixou quando se foi que eu queria arrumar antes que você batesse na porta. Caso não queira roçar os pés no tapete do meu terraço, não haverá problema, apenas você não vai estar comigo e nem muito menos me terá por perto. Apenas dentro das recordações que deixaremos no fundo do armário escondidas de todos e que no fim me farão ir embora, mesmo sem as chaves.

Júnior.

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