sábado, 22 de maio de 2010

Ela, quando me faz!


Às vezes parece que ela dança na palma da minha mão, mas quando eu penso em laçá-la com meu papel e caneta ela escorre molemente entre os meus dedos e se espalha no chão. Fruta podre e esmagada. O que me dá um trabalho intenso contra as minhas vagas salas sem nenhum elemento interessante para resgatar um conceito.

Outras vezes parece me acordar no meio da noite e correr por todo o quarto, queimar meus tapetes, arrancar-me dos lençóis sujos, cuspir nas minhas faces, subir pelas gavetas do meu criado-mudo e parar no abajur italiano até eu ascender a luz dessas salas brancas antes sem nenhum elemento interessante e apanhar minhas folhas recicláveis de caderno e extraí-la da lâmpada amarelada de calmaria.

Na minoria, rasgo meu íntimo com a ponta do lápis e extraio as minhas vísceras mais podres que estavam abafadas dentro dessas salas brancas vazias, que por meio de alucinações ou ressacas morais do conhaque não bebido nos bares de esquina, me levam a fotografar datilografias num pequeno retrato mudo. Ela me aborda de sandálias de dedo, roupa de dormir, cabelo bagunçado e com bafo de vinho. Me aborda sem avisar.

Na maioria, sento-me nas almofadas, nas escadas, nas beiras de rios e penso debaixo do teto, sol e chuva esperando ela aparecer. Fico ali estagnado no tempo, sem sentimento, sem sensação, sem nenhum momento para dizer “meu” com nada além da sala branca vazia. Visto minha melhor roupa, me perfumo com cheiro doce, ascendo um cigarro e as velas perfumadas, abro meu melhor vinho e compro flores na esperança dela chegar e largar suas malas pelo sofá, beijar-me os lábios, tomar um chá e conversar sobre essa grande caminhada ausente na minha vida.

Júnior

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