quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sinal Fechado!


Quando abandonamos na rua a mesma calçada e lutamos contra o congestionamento das nossas essências, percebi que você ainda consegue me fazer gelar as mãos, socar minha barriga com a sensação estranha e fria da paixão, borrifar o corado nas minhas maçãs do rosto, dar a largada para o meu coração desembestado sair disparado pelo caminho cheio de pedras para me impedir os belos saltos contentes nos seus pulsos de sangue quente.

Sentado ali no mesmo banco que costumávamos passar as tardes comendo doces e saboreando o vento, percebi que você ainda consegue maltratar meus lânguidos olhos sem dar-me a presença dos teus, cuspir na minha cara a realidade das minhas projeções para um amor perfeito e excêntrico – que eu insisto em acreditar que ele pode existir mesmo tendo as provas nas mãos e no peito que ele jamais acontecerá – fazer-me não ter noção dos amores que eu posso embarcar me jogando de cabeça sem nenhum pingo de consciência.

Mesmo de longe te observando entre os carros que passavam por mim em câmera lenta, percebi que você ainda consegue me gritar - mesmo calado - a falta de destino que essa relação pôde ter, o alertar do brilho dos meus olhos por uma ilusão que eu não deveria alimentar, a cantoria dos planos escorridos por água a baixo, a falta minha do aprendizado com outros amores, a reprovação nas matérias relacionadas ao coração.

Na mesma e antiga estação de trem onde tivemos a ajuda do destino para nos conhecer depois de um esbarro, percebi que você ainda consegue me deixar esperar por aquilo que nem sei o que é, me deixar mofar no ponto e passar do ponto, me deixar escurecer as minhas expressões num dia claro ensolarado.

No meu quarto, o mesmo onde passávamos a luxúria com o suor do outro nos nossos corpos, percebi, assim, no meu canto, quieto, abafado, seco, que tenho de escolher melhor minhas paixões, meus sexos com noites bem dormidas, meus sonhos para as noites mal passadas. Percebi o quanto envelheci diante os poucos momentos que presenciei seus ombros, minhas mãos entre suas pernas, suas unhas nas minhas costas, seu gozo nas paredes daquele velho lugar sem iluminação e cheio de incensos. Percebi que não posso querer-me sob seu corpo porque isso não me faz e nunca me fez bem. Percebi que devo continuar paralisado com minhas plantas presas à sacada da minha janela, que devo deixar secar as flores que ainda não coloquei dentro dos livros, que devo acabar-me ascendendo mais um cigarro, que não devo chorar mais nas mesas dos botecos fétidos, que devo riscar as palavras suas do meu teto antes de dormir, que devo permanecer com meu sinal vermelho para o amor e continuar com ele fechado por bom tempo, sem o contigo, sem o conosco, sem esses tais de eternos amantes. Porque assim percebo melhor o comigo.


Júnior.



3 comentários:

  1. Poha me imaginei aí. Juninho, texto perfeito demais mesmo. Fala tudo !! Quero comprar todos seus livros ;) te amo!

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  2. Senti um pouco de dor. E adorei. *-*

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  3. carambaaa,véi!!!ainda naum li tudo...só tou dando uma passada rapida mas, mto boom!!!é cafe e leite...dor e prazer e um monte de cores intrometidas e desbotadas no preto e branco ja pintado!
    bjo,mih!!

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