quinta-feira, 29 de julho de 2010

Angústia Necessária.


Colocou o disco para tocar novamente. Aqueles velhos e cansados acolhedores das dores de cotovelo dela. Sentiu o piano invadir a sala de estar. Sentiu as cortinas dançarem a canção repetidamente. Sentiu o arrepio causado pelo sussurro de uma voz mansa que saia da vitrola. Quis dançar junto aos tecidos. Mas apenas ouvia. Deixava seu corpo cansado no chão, nos móveis, nas paredes para que de alguma forma, imaginária, talvez, um príncipe montado num cavalo branco a levasse daquele lugar monótono. Nada de cavalos nem muito menos príncipe. Ela esperou por mais duas músicas repetidas. Sua garganta já gritava a falta de umidade. Quis beber água. Quis fumar outro cigarro. No entanto, a preguiça e o desânimo foram maiores que a forçaram de permanecer intacta no tapete chinês, nos lençóis de seda, nas toalhas de renda, nos quadros cubistas. Nas suas extremidades, o gelo do vento que entrava entre as fibras e espaços nos passos de dança das bailarinas de seda fez uma escultura dos seus membros. Já no seu busto, o gelo de seu peito rasgou-lhe o pescoço e dilacerou seu colo. Nenhuma dor. Ironia. Apenas vontade de ouvir mais uma música. Permanecer no frio por mais alguns minutos. Deixar-se enlouquecer pelas mesmas canções que corriam pelo quarto. Deixar-se morrer pela vontade seca de fumar e beber água ou alguma outra coisa sentimental. Por mais irracional que isso seja, ela o fez. E assim, mais uma vez tocou aquela música que a acolhia sem nenhum pranto. Só na necessidade de permanecer na merda por mais alguns instantes.

Júnior!

Um comentário: