sexta-feira, 23 de julho de 2010

Descanso.

Agora eu posso deitar nesse verde. Tocar na grama e sentir todos os grãos derramados pelos pássaros. Sentir o cheiro roxo da amoreira carregada de frutos. Saborear o azul das nuvens formando desenhos enigmáticos. Dançar com o vento a valsa silenciosa e fresca no meu rosto. Queimar o sol nas minhas bochechas róseas estragadas pela juventude. Esfriar os meus pés no orvalho da manhã tão sadia.

Agora eu posso esperar a noite chegar sem nenhuma preocupação. Sem medo do escuro e dos monstros que me disseram existir debaixo da cama. Posso contar as estrelas com o dedo sem a luz da cidade que vem interromper seus brilhos. Sentir o cheiro de maresia que entra nos meus olhos e me faz lacrimejar. Correr desnudo pela areia dessa praia de olhos fechados para não ver a repressão dos outros olhos secos.

Agora eu posso dançar livremente pelas praças. Pendurar-me nas árvores para tirar frutas frescas. Flutuar no riacho que me aconselharam não entrar. Acolher as flores mais lindas do meu jardim agora bem cuidado. Expor meu riso pelas calçadas e ruas molhadas de calmaria. Esquecer do tempo antes de voltar para casa nos meus carnavais.

Agora eu posso terminar de pintar meus quadros surreais com as cores mais vivas que encontrar. Limpar meu relicário e enfeitá-lo com sonhos bons. Comer essas besteiras que minha mãe sempre me prevenia comer quando eu era criança. Curtir essas chuvas de fim de verão morninho. Cuidar da minha plantação de tulipas no quintal de casa. Fazer meu balanço de pneu tão esperado. Terminar de compor minhas músicas sem nenhum ruído de tristeza. Limpar meus livros empoeirados e lê-los novamente. Olhar-me no espelho. Não ver minhas marcas e dizer o quanto me sinto aliviado.

Júnior!

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