sexta-feira, 2 de julho de 2010

É o que predomina.


Só quero ficar aqui no meu canto com meus textos e discos já cansados. Com meus desenhos abstratos e meu cinzeiro encardido. Nada de tristeza, por mais que possa parecer. Estou bem aqui, reservado. Estou ouvindo até aquela música que dançávamos juntos. É que dessa vez eu posso te deixar em outros braços porque não vai doer, inflamar ou sangrar. Foi tudo muito bom e sei que foi de verdade. Acho que pude pressentir por cada momento a sua mão na minha naquela poltrona do cinema, seus braços nos meus ombros na madrugada depois dos carnavais, seus olhos cruzando o meu silenciosamente entre os carros em câmera lenta, minha barriga gelar quando você se aproximava quando ia me beijar, minhas maçãs do rosto vermelhas de ciúmes. É, são essas coisas que sempre sentimos quando nos apaixonamos perdidamente. Essas imaginações e absurdos que a física não pode explicar. Essas coisas que nos fazem ficar perdidos nas decisões mais irracionais que não tínhamos antes de nos apaixonarmos. Sei que senti.

Agora sinto que não vou maltratar seu nome depois de tudo. Não vou rasgar suas cartas com aquele perfume doce. Não vou vomitar sua saliva quente guardada no céu da minha boa. Não vou despejar nos bares seus sorrisos mais sinceros. Não vou te matar com minha boca infame pelas praças. Acho que faria isso se ainda fosse aquele menino com medo do amor de um tempo atrás. Hoje eu não sou mais ele. Sinto em dizer que cresci com meu interior e que não vejo o porquê de te maldizer e chorar com sambas tristes de amores acabados. Pra mim nada acabou. Apenas está começando em outros ares, outros bares e em outros braços. Ninguém carregou a culpa e isso é o que me deixa confortável. O amor é que sempre predomina, sabe? Seja ele o meu ou não, o seu ou não. Isso é bom e não é hipocrisia da minha parte. Estamos livres de tudo e presos ao custo de novos risos, olhos, coxas, beijos e abraços. Indo para outros rumos com algo nosso guardado bem lá no cantinho confortável do nosso peito.

Júnior!

6 comentários:

  1. Preciso mesmo comentar? Ficou lindo o texo e sentimento... Me lembrou um velha canção da minha adolescência:

    'Guarde o melhor de mim, que no meu peito eu vou te guardar. Vai ser melhor assim, vai ser melhor pra mim, um dia a gente vai se encontrar...'

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  2. "discos já cansados."

    temos tantos...
    bom esse canto
    mto bom esse canto.

    ;)

    R.

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  3. Ai, muito lindo.
    Falando em música (no comentáiro acima) me lembrou duas músicas. Uma do Noel Rosa-Ultimo Desejo - e outra do Chico/Elis - Atrás da Porta.

    E eu já maldisse de um lar.

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  4. "cantinho confortável do nosso peito"
    ahh, adorei esse texto *-*

    http://www.kdocafe.blogspot.com/

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  5. "É que dessa vez eu posso te deixar em outros braços porque não vai doer, inflamar ou sangrar."
    Muito Bom.

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  6. " Agora sinto que não vou maltratar seu nome depois de tudo. Não vou rasgar suas cartas com aquele perfume doce "....que sinceros são seus versos , verdadeiros , profundos .

    Lugarzinho gostoso esse seu , voltarei mais vezes .
    *.*
    http://mlembran.blogspot.com.br/

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