sábado, 21 de agosto de 2010

Pedido quase Delito.


Isso vai me enlouquecer. Vai me agarrar as entranhas e me puxar para baixo como energia negativa sobrecarregando minhas costas. Me deixará mais afundado nessa agonia de bêbado tentando esquecer seus amores nos botecos fétidos dessa cidade. E que cidade miserável. Essa podridão no canto das calçadas é de dar-me um embrulho no estômago e fazer-me revirar de um canto para o outro da cama quando tento dormir. Essa merda que desenha as paredes desses prédios e outdoors dessas avenidas com figuras ilustradas de puro cinismo, parece rasgar-me com veracidade minhas limitadas verdades sobre o meu bem estar.

Vestido com essa regata branca, bermuda rasgada e chinelo de couro com aquela velha mochila xadrez recheada com meus sonhos num pedaço de papel, andei desfilando por entre becos e ruas sem saída, e sendo repugnado com esses olhares que não retribuíam meu contentamento comportado. Olhando para um lado, o padeiro me mastigava passado na manteiga com seus olhos cheios de dentes como se soubesse o que andei fazendo na noite passada nas camas alheias ou ninhos de recanto. Olhando para o outro lado, a vizinha fofoqueira me cuspia com bafo na cara a indecência e intolerância que isso tudo se torna para quem não vive na minha carne, na nossa carne, naquela carne que tanto a chamam de podre e é massacrada por esta merda de sociedade. Até o mendigo bêbado do quarteirão distante, indigente miserável, não o julgando, me fazia meter meu rabo entre as pernas que, então, ficavam trêmulas de tanto desconforto.

Esses olhares me queimam as bochechas de tanta incompreensão. Cortam-me as pernas. Sangram-me os lábios. Queimam minhas asas que se fazem tão pequenas. Desprezam meus sonhos mais inocentes. Não traduzem essas línguas tão idênticas chupadas com o mesmo tom roxo de amor. Não dissipam a desigualdade que ainda está embutida nos bancos de praça, nas escolas, nas pregações religiosas, nos senados. Não me fazem almejar esse amor que tanto distribuem em enlatados nas igrejas e em gente boa de família. Deixam-me curvado, com joelhos no chão, dolorido diante um pensar que tenta me parecer errado, cancerígeno, praga maligna que se espalha entre campos abertos, ruas estreitas, mentes fechadas, e estimula os amores errôneos dessa gente tão pobre de conceitos.

Gostaria de entender, meu Deus, o porquê de toda essa reprovação? O porquê de tanta falta de tolerância? Pelo qual motivo o respeito-pelo-próximo resolver se soltar da boca de um indivíduo e desvanecer-se no ar como algo barato e simples? Pelo qual motivo, “essas-queridas-pessoas-normais”, resolveram estragar um dom tão divino? Pisar nele feito inseto repugnante que te dá náuseas? Não entra de nenhuma forma na minha mente o porquê desse mau-dizer imenso que jorra nos chafarizes secos dessa cidade. Não consigo ver motivo são para não me deixarem morrer de amor. Não consigo ter uma visão semelhante para não me deixarem acariciar um rosto tão semelhante ao teu, Cristo. Será que vão nos moldar e nos petrificar feito doença nas praças? Será que vão atirar pedras nas nossas cabeças para dar defeito nessas engrenagens sutis para voltarmos a ser como éramos antes, igual a todos os “normais”?

Não sei Senhor, já não mais sinto essa bondade entre os homens. Já não sei o que será daqui pra frente quando as guerras definitivamente começarem. Peço-lhe, apenas, que atendas meu pedido. Nesse meio onde os homens comem a carne podre um dos outros. Nesse meio onde os cães lambem com vontade essa merda que sai da boca desses bêbados de má fé jogados nas calçadas. Peço-lhe que apenas aprece o passo. Fabrique algo para curar essa dor incômoda que arranha meu sono. Algo que possa ser injetável, que não doa, que amenize essa enxaqueca que me desnorteia depois de horas batendo a cabeça na parede para isso tudo entrar na minha mente. Porque assim, não está dando mais para sentir a calmaria do sol batendo nos meus olhos me mantendo vivo no gramado que tanto me esconde.

Júnior.

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