sexta-feira, 2 de abril de 2010

Algo seu de me fazer sofrer


Algo grita em meu devaneio para não te procurar mais. Esquecer tuas marcas no meu peito deixadas pelo lençol da minha cama que me deixa com frio quando você não está por perto.

Algo se limita quando teus pés não tocam os meus na horizontal.

Algo quebrado me deixa no chão catando os cacos que me sangram. Quando não te tenho em meus braços.

Algo me deixa numa ressaca sedenta depois de uma noite com o conhaque ou o vinho viciante dos imundos que eu nem bebi.

Algo abraça minha tristeza, minha solidão, minha dor.

Algo que eu não sei explicar, mas só consigo sentir quando teus braços não envolvem os meus, quando teus dedos não tocam os pelos do meu peito, quando teus lábios não molham meu céu da boca com as estrelas sem luz própria.

Algo me alerta dessa dor que sinto quando não te vejo, não te toco, não penetro teu íntimo.

Algo sussurra em meus ouvidos para me jogar contra essa brisa que me faz tão delicado e livre.

Algo me esnoba nos meus sonhos.

Algo me agarra e me bate na cara com as palavras afiadas dizendo que não sou quem você pensa ou sonha que eu fosse.

Algo me faz dissimular, mesmo sabendo que não sou disfarce, não sou falsidade, não sou oculto com esse desejo, paixão ou amor, sentimento que não devo rotular e enquadrar nos padrões de afeto desses humanos secos e turvos.

Algo fura minha barriga e me faz doer. Uma náusea sem fim parece me maltratar e me deixar com o gosto do vazio na minha saliva. Vazio que só sinto quando o sol da tua manhã não rasga minha cortina de cor avermelhada e não acorda os meus olhos lânguidos por estar só, tão cedo no meu dia.

Algo não aceita minha cara contente e despojada.

Algo me concentra a minha cara amarrada e marcada pelo travesseiro que passou mais uma noite sem o cheiro dos teus cabelos e da tua nuca que deveria,por desejo meu, roçar a fronha nova que trocaram na noite passada.

Algo não quer me deixar pegar no sono.

Algo não quer me confortar em noites de pesadelos onde quase deixo águas escorrerem por entre minhas pernas e panos, como criança.

Algo não me deseja boa noite e nem me dá beijo antes de dormir, por que você não o faz!

Algo não acende a luz para eu me confortar no medo que trago com minhas meias azuis entranhadas com meu cobertor.

Algo não me deixa em paz.

Algo não me deixa morrer na guerra.

Algo não me segura.

Algo não me engole de vez, mas sim, me mastiga e sente o meu gosto tão amargo ejetado pelo meu fedor de alma solitária sem nenhum amante acompanhante para esta noite monocromática, com embalo de vinho doce, passinhos pra lá e pra cá.

E se ainda eu sonhar, quem sabe, se o desenvolver da conversa, o sexo agridoce ácido azedo cítrico do suor que pode me deixar molhado e gozado de um sentimento que você carregou para longe junto com seus sonhos?

Só queria acabar com algo que não me permite te amar todos os dias e noites de prazer. Só queria te chupar a língua até você gemer.

Só queria te maltratar.

Amassar-te na parede do meu quarto.

Arranhar-te as costas negras do teu fogo.

Cuspir palavras de amor nas tuas faces.

Baforar-te a fumaça do cigarro na tua roupa e comer-te com os olhos por toda a madrugada depois do sexo.

Só queria ter você, na minha cama, dormindo como anjo bom que me trouxe paz e acabou com algo que me deixou assim, sofrendo tristemente amando nesta saudade incontrolável.

Júnior.

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