quinta-feira, 1 de abril de 2010

Hoje, simplesmente chorei


Hoje eu chorei. Foi um choro tão diferente e ao mesmo tempo tão comum e presente no lado esquerdo do meu rosto seco e deformado pela juventude. Esse choro saiu de mim como facas que cortaram sem querer todo o meu ser. Principalmente o resto intacto do meu peito. O resto que ainda tinha reservado para alguém depois dessas noites solitárias entre vinhos e conhaques que nunca existiram, de fato, na minha vida e que mesmo assim me fizeram cansar de procurar o amor por trás de um sorriso faceiro e trocas de olhares entre luzes vermelhas de casas noturnas depois da embriaguês que me faz ter a pior das ressacas.

Hoje eu chorei. Foi um choro tão ácido que corroeu não só minha alegria, que até então estava estampada na minha cara, mas também minhas cordas vocais que, no meu fracasso por tentar reagir nessa dor, não me deixaram gritar para esvaziar da minha garganta estagnada pelo vinho que nela se estragou e perdeu seu melhor, o gosto viciante.

Hoje eu chorei. Foi um choro tão amargo e sem cor que dava pra perceber as minhas tristezas insolúveis e abafadas pelo tempo no meu porão vazio, afogando-se no mar trágico e turbulento da minha decepção que não atribuo a ninguém. Não houve pedido de socorro ou alguém para ajudar. Não houve intenção de agarrar-me a algo sólido para me apoiar. Não queria nessa condição ser ajudado por nenhum destes nem muito menos devotar gratidão a quem pudesse me resgatar. Apenas fui levado pela correnteza e não quis abrir meus olhos para ver onde estava, porque eu poderia ter medo da imensidão triste que se fazia diante dos meus olhos lânguidos.

Sem coragem, quis ficar quieto no meu canto com almofadas e cartas antigas. As lágrimas que insistiram em cair, molharam de melancolia o meu travesseiro que tanto me ouvi calado nesse escuro só. As lágrimas que insistiram em cair não me deixaram belo diante do espelho, se comparado ao momento de fuga do meu eu na paixão que tanto me fez bem. As lágrimas que insistiram em cair molharam, com a maior maldade, o meu quadro tão bem delineado pelo contentamento que estava exposto nas minhas bochechas róseas. As palavras bem definidas de carinho, os afetos tão bem tratados e acolhidos pelo meu coração, as gargalhadas e risos sinceros estavam tão bem distribuídos e costurados naquela paisagem colorida de emoção e sentimentos. Mas não poderia ter ficado assim exposta por muito tempo. A obra tinha que retornar ao seu museu, ao seu estoque, ao seu lugar e esconder o brilho das tintas cheirosas que descobri nas tardes vazias de domingo sem criatividade e imaginação, já que seriam chamativas interessantes, a não ser pelo abstrato e complexidades que a mesma tinha se tornado e, conseqüentemente, não haveria um público nenhum para adimirá-la.

Hoje eu chorei. Chorei por motivos que nem eu mesmo posso saber. Chorei por ter medo do solitário, do triste, do novo. Chorei por amor, paixão ou um simples gostar. Chorei e terminei borrando essas cores e essas palavras que tanto custei a amarrá-las no carinho deste quadro sem vida. Chorei porque senti falta do vermelho da cortina, do negro do cabelo e do branco do sorriso do alguém.

Hoje, simplesmente chorei!

Júnior!

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